Capítulo 18
Coloquei minhas malas no chão, e esperei. Não demorou muito, e ouvi o barulho da porta se abrir, era minha mãe. Ao me ver, abriu um sorriso enorme, de orelha a orelha. E me abraçou, sem dizer nada. Minha cara condenava, eu não estava nada bem.
- Pequena...- Disse ela, limpando as lágrimas que escorriam em meus olhos.
- Mãezinha, que saudade!- Disse a abraçando de novo.
- Vamos entrar... Seu pai tá trabalhando, mais tarde ele chega.- Falou sorrindo, e entrando com uma das minhas malas. Eu a segui.
- E aí filha, como andam as coisas? Você tá melhor? - Eu não consegui responder. Eu coloquei minhas malas no quarto, me sentei na cama de solteiro que havia alí, e apenas chorei. Ela me colocou em seu colo, e eu chorei ainda mais. Pois eu estava sentindo que eu era amada, e ela me amava apesar de tudo. Fazendo cafuné na minha cabeça, e cantando a música que papai fez pra mim, passamos um bom tempo. Eu não consegui parar de chorar, estava doendo mais do que qualquer coisa, ficar longe do meu pequeno. Peguei no sono, e mesmo assim, esses ultimos dias, eu estava tendo sonhos muito pertubadores, nem dormir estava mais aliviando minha dor. Eu estava no limíte. Mamãe me acordou, com sua voz tranquila, e me fez comer uma torta que ela havia feito. Eu comi, porém, coloquei tudo pra fora.
- Mãe, acho que estou doente. Devo ter pego uma virose...
- Deve ser filha... Desde quando você está assim?
- Desde quando eu comi um Stroggonof, no avião.
- Acho que estava estragado... Acho melhor irmos à um médico.
- Não mãe... Vou ficar bem, fica tranquila.- Respondi me deitando novamente.
- Tudo bem, filha... Mas, se você continuar assim, me avisa, e vamos à um médico.
- Ok, mãe... Vou me deitar, pois estou muito cansada... Quando papai chegar, pede desculpas, e amanhã a gente se fala, tá?
- Tudo bem filha... - Disse ela, saindo do quarto e fechando a porta.
Deitei minha cabeça no travesseiro, e orei:
"Pai, sei que não ando falando pouco contigo... Sei que errei em ter me separado do Lucas, e isso está me matando. Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas eu não me arrependo. Meu lugar nunca será no mundo dele. Ele é o homem da minha vida, e sempre será. Deus, onde quer que ele esteja, cuida dele por mim? Não deixe ele sofrer, conforta o coração dele... Eu o amo mais que tudo... Amém"
Fechei os olhos, e comecei a lembrar de tudo que passamos, meu coração estava em mil pedaços... Eu estava querendo viver sem respirar. Eu tinha que dar um jeito naquilo. Adormeci, e sonhei com aquele olhar, o último olhar que ele me deu, no aeroporto. O olhar de despedida. Quando ele se foi, ele levou tudo consigo, minha alma, meu coração, meu ar, a razão de eu existir. Era a única lembrança que me restara. Aquele crucifixo que ele havia esquecido em casa. O coloquei em meu pescoço, como uma forma de estar perto dele "Onde quer que você esteja, eu te levarei comigo, pra sempre. Te amo, pequeno". Disse segurando o crucifixo.Me levantei, fui até a cozinha, e tomei um pouco de água. Ninguém estava mais acordado. Voltei para o quarto, e tentei me acalmar. Tomei um Dramim, e dormi.
- Bom dia filha...- disse meu pai entrando no quarto.
- Bom dia, papai.- Respondi, acordando.
- Que saudade...- falou se aproximando.
- Pai, me abraça?- Ele sorriu, e me abraçou. - Te amo, papai. MUITO.- disse o apertando forte contra meu corpo.
- Eu também, filhinha... - Sorriu ele. - E como você está?- Segurei minhas lágrimas, pois não queria demonstrar a emoção, respirei fundo, sorri, e disse:
- Melhor agora, com você e a mamãe perto.- Ele me beijou na testa, e se levantou.
- Estou indo trabalhar, sua mãe vai ficar aí... Porque vocês não vão passear no centro de Marsella, pra conhecer?
- Claro! Vou me arrumar, e vamos... Você conhece um taxista bom que possa nos levar?
- Conheço sim! Ele chama Daniel!- Gelei nessa hora, meu estômago se revirou. DANIEL BOM? DESDE QUANDO?
- DANIEL?- Perguntei indignada.
- Você o conhece?
- Sim... Infelizmente- falei rindo.
- Ele é meio doidinho, mas é gente boa!
- Tudo bem, só pede pra ele andar mais devagar, tá?-
- Ok, Ok.- disse meu pai, pegando o celular e ligando pra Daniel. Fui me arrumar, e comer alguma coisa.
- Bom dia, mãe.
- Bom dia, Milene... Como você tá?
- Bem, mãe...- Desde que Lucas e eu nos separamos, eu disse umas 37 vezes, "Estou bem", e nenhuma delas foi verdade. Mas dessa vez, foi. Eu estava bem. Pois eu tinha que tocar minha vida.